Desmistificando na prática a comunicação não violenta
Comunicação não violenta. Esse é um termo familiar para você ou não passa de mais um dos termos que a internet sempre fala, mas nunca é abordado realmente a fundo?
Para começarmos de forma lúdica e com apoio de Buda, um nome importante para a história: “As palavras têm o poder de ferir e de sarar. Quando elas são boas, têm o poder de mudar o mundo”.
Tá, então no que consiste a Comunicação Não Violenta?
Criado em 1960, o termo ganhou notoriedade quando Marshall Rosenberg, psicólogo norte-americano, elaborou um novo método de comunicação para seu trabalho de orientação educacional em instituições de ensino que eliminavam a segregação. Sua metodologia foi condensada no livro “Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, que é atualmente um dos principais materiais acerca do assunto. Segundo o próprio Marshall, a comunicação não violenta é definida como:
“Uma comunicação onde os indivíduos falam e também ouvem. Um espaço em que tudo acontece de maneira empática e genuína”.
Enquanto lê esse blog, você pode estar se perguntando: essa é uma prática que deve ser utilizada no ambiente corporativo? Para respondermos a essa pergunta utilizaremos um novo questionamento: você usa a comunicação apenas enquanto trabalha? Certamente agora você já consegue visualizar os espaços em que a comunicação não violenta é bem-vinda.
Ela vale para a forma como os assuntos são abordados em família, nas tratativas em relacionamentos amorosos, relacionamentos profissionais e por aí vaí.
Uma comunicação ruim afeta a produtividade, tira a vontade, atrapalha o clima, afasta talentos, prejudica sentimentos e pode ocasionar descontroles emocionais, entre outras situações perigosas para o bem-estar.
Como saber se pratico uma comunicação violenta?
Comunicação jamais será uma ciência exata e é justamente por isso que não há uma fórmula perfeita para descobrir algo, mas sim caminhos. Quando ao se expressar você julga, critica ou rotula, são grandes as chances de estar estimulando na outra pessoa a experiência de culpa, medo e vergonha, ou seja, comunicação violenta.
Outra forma de comunicação que está ligada à violência é a ameaça e punição. Imagine o cenário em que você tem um vínculo direto de moradia com determinada criança e que, ao entrar no quarto dela, dá de cara com uma bagunça de roupas e brinquedos.
- Abordagem dentro da comunicação violenta: “Pelo amor de Deus, arruma esse quarto. Não aguento mais. Já é a milésima vez que eu estou te pedindo isso.”
- Abordagem dentro da comunicação não violenta: “Eu estou muito preocupada(o) e cansada(o). Eu valorizo muito um espaço organizado e todos contribuírem com a arrumação da casa. Quando, pela terceira vez, eu entro no seu quarto e vejo as roupas e brinquedos espalhados no chão, fico perdida(o). Quero conversar com você e entender qual a razão para tal cenário? O que está acontecendo? Pode se abrir comigo, vamos conversar”.
A violência também pode estar no silêncio. Ao invés de abordar o que está incomodando, a pessoa envolvida fica quieta. As demais pessoas envolvidas não sabem o que está acontecendo e nem a razão, mas há o silêncio, com a crença de que o outro deva saber. Lembre-se que o tratamento do silêncio pode ser uma forma manipulativa de criar no outro a sensação de punição.
Como aplicar a comunicação não violenta no dia a dia?
Antes de abordarmos esse tópico é importante ter em mente que nenhuma dessas dicas significarão conversas fáceis: a comunicação não violenta não garante um mundo colorido de unicórnios e sorrisos no rosto.
Com isso em mente, chegou a hora de conhecer os 4 passos essenciais para estabelecer a comunicação não violenta:
- Observação (ao invés de julgamentos)
- Sentimentos (ao invés de avaliações)
- Necessidades (ao invés de estratégias)
- Pedidos (ao invés de ordens)
Vamos ao exemplo prático de como tudo isso funciona:
- Exemplo de uso da comunicação violenta: “Você chegou atrasado (intimidação), isso é muito desrespeitoso (crítica)”;
- Exemplo de uso da comunicação não violenta: “Quando você chega 10 minutos atrasado a uma reunião que marcamos juntos (observação), eu me sinto desrespeitado (sentimentos), pois a pontualidade é importante para me mostrar que você está comprometido com nossas reuniões (necessidades). No futuro, você poderia chegar na hora? (pedido)”.
Dicas extras para nunca esquecer
- A comunicação começa muito antes de qualquer palavra sair de nossa boca. Ela diz respeito aos julgamentos que fazemos sobre as pessoas e situações;
- Observar sem julgamentos é o primeiro componente. A tarefa não é fácil, mas também não é impossível;
- Jamais esqueça que não é obrigação do outro perceber os seus desejos e necessidades como se eles fossem óbvios;
- Ao invés de ir na direção de uma relação de disputa entre certo e errado, tente uma conexão de forma empática;
- É imprescindível saber que a sua visão de mundo não é melhor nem pior que a visão de mundo dos demais. Ela pode ser apenas diferente.
3 Ted Talks para entender a comunicação não violenta
Comunicação não violenta é sobre afeto | Amanda Torres
Publicitária, cool hunter e especialista em mídias sociais, Amanda Torres aborda em seu Ted Talk a comunicação não violenta como palco para realização de uma comunicação digital inclusiva, que fornece oportunidades a um público considerado “diferente” pela sociedade.
Para Início de Conversa | Carolina Nalon
Bióloga de formação, Carolina mudou o rumo da carreira para trabalhar com desenvolvimento humano e comunicação não violenta. Nesse breve Ted Talk, além de contar um pouco de sua motivação para trabalhar com a CNV, a profissional também aborda sua percepção acerca da tão falada empatia.
Como praticar a empatia em uma sociedade desigual? | Carolina Nalon
Além da graduação em Biologia, Carolina também é fundadora do Instituto Tiê, organização que oferece treinamentos corporativos de CNV. Carolina Nalon tem como foco em seu trabalho a discussão de temas como: compaixão, empatia, diversidade e privilégios. Neste TED Talk, Nalon fala sobre o uso da empatia de maneira ampla e sobre como podemos utilizá-la para fomentar transformações sociais positivas.
3 filmes que inspiram a comunicação não violenta
Humano – Uma viagem pela vida (2015)
“Humano” é mais do que um simples documentário. Os relatos contrapõem diferentes visões de mundo, mostrando diversos pontos de vista a respeito do que nos faz seres humanos. Em poucas horas, “Humano” resume mais de duas mil entrevistas realizadas em 63 países pelo fotógrafo, diretor e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand. O documentário retrata a falta recorrente da comunicação não violenta, inclusive nas guerras.
História de um casamento (2019)
“História de um casamento” mostra o delicado e doloroso processo de separação entre Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson), pais de Henry (Azhy Robertson), único filho da relação. Inicialmente, o casal não recorre a advogados no processo de separação, mas sim a um mediador. Logo na primeira cena, eles passam pelo exercício da exposição de pontos positivos sobre o outro. Mas, com o passar do filme, são percebidas as dificuldades de Nicole em expor tudo aquilo que quer a Charlie, o que culmina no aumento de tensão e conflitos durante o processo de separação. O longa, dirigido e roteirizado por Noah Baumbach, tem em seu final mais uma referência àf importância da comunicação não violenta nas mais diversas situações. O momento em que Nicole e Charlie finalmente se encontram e se permitem um diálogo verdadeiro e genuíno concentra muita emoção, e justifica automaticamente todos os benefícios da prática da comunicação não violenta.
Intocáveis (2011)
Lançado em 2011, o filme conta a história de parceria entre Phillippe (François Cluzet), um milionário que ficou tetraplégico e Driss (Omar Sy), seu cuidador. Na busca por cuidadores, Philippe se depara com inúmeros profissionais, mas não aprova nenhum, pois todos eles o tratam com um olhar de piedade. Nessa busca, ele encontra Driss, um jovem negro e pobre e que no passado também havia sido preso.
Apesar de contradizer o padrão, é por Driss que Phillipe se interessa. A decisão do milionário acontece porque Driss trata-o normalmente. Intocáveis reafirma a essência genuína da comunicação não violenta (CNV), visto que ambos os personagens se permitem estar no lugar do outro, entendendo que cada um é um único universo, com dores e sonhos diferentes.
Gostou desse conteúdo? Aproveite para assinar a nossa newsletter e receber nossos conteúdos em primeira mão!
Newsletter Vox2you